Nasci numa terra alentejana, nas margens do Guadiana. Fui "obrigado" a partir, p'ra "cidade grande", à semelhança de tantos outros, quando o adolescente ainda estava a meio fazer... E cresci, em Lisboa, minha terra de adopção, sem que, jamais, fosse capaz de, num só dia, esquecer o meu Alentejo, então distante. O "meu" Alentejo era, então, muito para além da outra margem do Tejo e ainda não havia ponte. Só "matei" saudades, quatro anos volvidos, para ir acompanhar o funeral dum parente... A viagem foi longa, diversa e demorada... Meteu barco para o Barreiro, comboio até Beja e camioneta p'ro destino final... Estranhamente, as ruas da "minha" terra tinham encolhido, o rio ficara mais estreito... e comecei a discorrer que, espera aí, quem começara a ficar "diferente" fora eu... A "cidade grande" transformara o meu olhar. E talvez tenha sido esse o momento em que, pela primeira vez, apercebi uma estranha necessidade de arrancar as "vendas", de ter a consciência de que "os lados" também são um campo de visão. São muitas as vezes em que acredito, acredito mesmo, que aquela viagem, afinal uma viagem dolorosa, paga, depois, a prestações, me ajudou na procura de aperceber todos os lados deste nosso viver. Nesses parcos dias, apercebi que esta nossa vida não pode ser, é preciso que não seja, uma sequência interminável de dias. Os que assim procedem, e somos quase todos, limitam-se a "matar" o tempo. Um tempo que, por ser escasso, é imperioso que saibamos aproveitar, sempre, em todos os dias, enquanto dádiva que não poderemos, nunca, deixar de repartir.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário