23/04/2008

A desertificação... O desenraizamento.

Terá sido p'los idos de 50 que a desertificação, principalmente no que se refere ao Alentejo, se começou a tornar mais evidente... sem que os poderes públicos, em algum tempo, lhe tivessem dado uma verdadeira e honesta atenção. Nos anos que se seguiram ao 25 de Abril houve uma certa estagnação que, liquidada a ilusória esperença, regressou em força e, hoje, por exemplo no concelho de onde sou oriundo, a situação é verdadeiramente alarmante. Basta referir que há 4o anos, o concelho, um dos mais extensos de Portugal, tinha cerca de 30 mil residentes. Hoje, são cerca de 9 mil, sendo que cerca de 40% têm mais de 75 anos, e são pouco mais de 5% os que têm menos de 20 anos de idade. Entretanto, os poderes públicos, locais, regionais e nacionais, assobiam p'ro lado. Neste caso, são todos oriundos da mesma força partidária o que, aos meus olhos, ainda facilita as coisas... Muitos são os pequenos aglomerados quase completamente abandonados, a indústria é inexistente, o comércio está falido e o principal empregador é o município, que tende a perpetuar-se no poder já que o caciquismo, som uma capa democrática, regressou em força. Isto porque quem não for da "cor" não arranja emprego...E, ao mesmo tempo que as "receitas" pagam empregos e "estabilidade" política, o saneamento básico e tantas outras carências são remetidas para as calendas...
Mas o aspecto que eu pretendia, de facto, abordar, prende-se com o desenraizamento, tema raramente abordado e que, entretanto, assume, aos meus olhos, uma importância de significado superlativo.

19/04/2008

Começamos por aqui...

Nasci numa terra alentejana, nas margens do Guadiana. Fui "obrigado" a partir, p'ra "cidade grande", à semelhança de tantos outros, quando o adolescente ainda estava a meio fazer... E cresci, em Lisboa, minha terra de adopção, sem que, jamais, fosse capaz de, num só dia, esquecer o meu Alentejo, então distante. O "meu" Alentejo era, então, muito para além da outra margem do Tejo e ainda não havia ponte. Só "matei" saudades, quatro anos volvidos, para ir acompanhar o funeral dum parente... A viagem foi longa, diversa e demorada... Meteu barco para o Barreiro, comboio até Beja e camioneta p'ro destino final... Estranhamente, as ruas da "minha" terra tinham encolhido, o rio ficara mais estreito... e comecei a discorrer que, espera aí, quem começara a ficar "diferente" fora eu... A "cidade grande" transformara o meu olhar. E talvez tenha sido esse o momento em que, pela primeira vez, apercebi uma estranha necessidade de arrancar as "vendas", de ter a consciência de que "os lados" também são um campo de visão. São muitas as vezes em que acredito, acredito mesmo, que aquela viagem, afinal uma viagem dolorosa, paga, depois, a prestações, me ajudou na procura de aperceber todos os lados deste nosso viver. Nesses parcos dias, apercebi que esta nossa vida não pode ser, é preciso que não seja, uma sequência interminável de dias. Os que assim procedem, e somos quase todos, limitam-se a "matar" o tempo. Um tempo que, por ser escasso, é imperioso que saibamos aproveitar, sempre, em todos os dias, enquanto dádiva que não poderemos, nunca, deixar de repartir.