O 10 de Junho... Os emigrantes/migrantes...
Ontem ouvimos e vimos a mais excelentíssima personagem da nossa democracia, quando instado a pronunciar-se acerca de mais uma contestação laboral, responder que não estava ali p'ra falar doutra coisa senão do dia da Raça. Não sabemos a que raça se referia a excelentíssima excelência.... Mas, adiante...
E por ser hoje o agora chamado Dia de Portugal... e dos habituais elogios aos que, ao longo dos séculos, vêm sendo obrigados a abandonar a sua terra, para não morrerem à míngua... e isto, tão só, porque os que, depois, louvam a sua actividade em terra alheia, - sabe-se lá com que sacrifício e com que tamanha saudade - , são, eles mesmos, os principais responsáveis pela deserção a que os portugueses (e tantos outros povos...) sempre se viram forçados.
Acreditamos que, alguns, poucos, o fizeram ... por que sim... Só que, a esmagadora maioria, partem, partiram sempre, obrigados. A salto ou de qualquer outro jeito, já que a Terra que os viu nascer não foi capaz ou não achou por bem, dar-lhes uma vida digna. E, sempre, por culpa dos que, aqui, fizeram ou fazem de homem-do-leme, evidentemente, navegando, sempre, contra as evidentes necessidades do povo que, sempre, disseram e dizem ser o primeiro objecto da sua entrega aos deveres da governação. E ainda pretendem que sejamos um povo de marinheiros...
Esses mesmos governantes que, depois, no 10 de Junho, lhes cantaram e cantam loas. Desavergonhados...
E é a pensar nesses, nos emigrantes/migrantes, que se contam por muitos milhões e que, p'los vistos, tendem a ser cada vez mais, que me propuz procurar dar vida a este desabafo... quero dizer, blogue...
Sendo certo que não são só portugueses os deserdados da pátria, muitos migrando, outros, tantos mais, emigrando, foi a migração, nos que me incluo, que esteve na origem desta minha escrevinhação e vai ser, certamente, a razão primeira deste escrevinhar. Só que, hoje, os emigrantes, - afinal parentes daqueles outros que, não saíndo do país, demandam às grandes cidades - , estão na ordem do dia e, falar deles, acabou sendo natural.
Numa próxima oportunidade procurarei, dando conta de experiências que também conheço, mostrar o quanto foi, e ainda é, dolorosa, porventura mais tormentosa, - considerados outros entraves como o são a língua, a exclusão... - a vida dos milhões de portugueses que se viram na necessidade de cruzar a fronteira.
Hoje, vi falar de mais apoio, falar dos consulados que é preciso criar... ao mesmo tempo que testemunhamos o seu encerramento... Quem é que ainda está capaz de entender esta gente ? Afinal, onde é que estava o 1º. A quando o 1º. B mandava encerrar consulados ?!...
A não ser que os discursos e as práticas se destinem, de forma concertada, a agradar ora a gregos ora a troianos...
E nestes, aparentemente, díspares sentimentos, onde ficamos nós, as pessoas, as pessoas que elegeram quem assim procede ? Sim, nós não podemos ficar de fora... Desta vez, também somos culpados. Os que votaram, os que ficaram em casa, todos... A democracia responsabiliza...todos!...
Tempos houve em que as remessas dos emigrantes eram uma das principais receitas dos criadores do dia da raça. Já os migrantes, se nas suas terras feneciam sem futuro e sem esperança de futuro para os filhos... chegados à cidade grande, o almejado futuro, a almejada esperança, esfumavam-se rapidamente... E o bilhete de ida, tantas vezes com dinheiro emprestado... tomara que fosse, também, bilhete de volta... Regresso que, tantos, jamais fizeram. Talvez não tenham morrido de fome, enquanto puderam trabalhar, um trabalho quase sempre duro e mal pago. Eram, são-no ainda, quase todos, gente pouco habilitada. E, agora, com reformas de miséria, fenecem, lentamente, sentados em bancos de jardim.
Desses, sim, não é desadequado afirmar que, quando nasceram, começaram, imediatamente, a morrer.
Sempre assim terá sido e, Abril, que chegou a parecer a primavera sonhada, está tornado, como tantos já vimos vendo, no inverno donde, afinal, ainda não fomos capazes de sair...
23/08/2008
14/07/2008
10/06/2008
O 10 de Junho... Os emigrantes/migrantes...
Ontem ouvimos e vimos a mais excelentíssima personagem da nossa democracia, quando instado a pronunciar-se acerca de mais uma contestação laboral, responder que não estava ali p'ra falar doutra coisa senão do dia da Raça. Não sabemos a que raça se referia a excelentíssima excelência.... Mas, adiante...
E por ser hoje o agora chamado Dia de Portugal... e dos habituais elogios aos que, ao longo dos séculos, vêm sendo obrigados a abandonar a sua terra, para não morrerem à míngua... e isto, tão só, porque os que, depois, louvam a sua actividade em terra alheia, - sabe-se lá com que sacrifício e com que tamanha saudade - , são, eles mesmos, os principais responsáveis pela deserção a que os portugueses (e tantos outros povos...) sempre se viram forçados.
Acreditamos que, alguns, poucos, o fizeram ... por que sim... Só que, a esmagadora maioria, partem, partiram sempre, obrigados. A salto ou de qualquer outro jeito, já que a Terra que os viu nascer não foi capaz ou não achou por bem, dar-lhes uma vida digna. E, sempre, por culpa dos que, aqui, fizeram ou fazem de homem-do-leme, evidentemente, navegando, sempre, contra as evidentes necessidades do povo que, sempre, disseram e dizem ser o primeiro objecto da sua entrega aos deveres da governação. E ainda pretendem que sejamos um povo de marinheiros...
Esses mesmos governantes que, depois, no 10 de Junho, lhes cantaram e cantam loas. Desavergonhados...
E é a pensar nesses, nos emigrantes/migrantes, que se contam por muitos milhões e que, p'los vistos, tendem a ser cada vez mais, que me propuz procurar dar vida a este desabafo... quero dizer, blogue...
Sendo certo que não são só portugueses os deserdados da pátria, muitos migrando, outros, tantos mais, emigrando, foi a migração, nos que me incluo, que esteve na origem desta minha escrevinhação e vai ser, certamente, a razão primeira deste escrevinhar. Só que, hoje, os emigrantes, - afinal parentes daqueles outros que, não saíndo do país, demandam às grandes cidades - , estão na ordem do dia e, falar deles, acabou sendo natural.
Numa próxima oportunidade procurarei, dando conta de experiências que também conheço, mostrar o quanto foi, e ainda é, dolorosa, porventura mais tormentosa, - considerados outros entraves como o são a língua, a exclusão... - a vida dos milhões de portugueses que se viram na necessidade de cruzar a fronteira.
Hoje, vi falar de mais apoio, falar dos consulados que é preciso criar... ao mesmo tempo que testemunhamos o seu encerramento... Quem é que ainda está capaz de entender esta gente ? Afinal, onde é que estava o 1º. A quando o 1º. B mandava encerrar consulados ?!...
A não ser que os discursos e as práticas se destinem, de forma concertada, a agradar ora a gregos ora a troianos...
E nestes, aparentemente, díspares sentimentos, onde ficamos nós, as pessoas, as pessoas que elegeram quem assim procede ? Sim, nós não podemos ficar de fora... Desta vez, também somos culpados. Os que votaram, os que ficaram em casa, todos... A democracia responsabiliza...todos!...
Tempos houve em que as remessas dos emigrantes eram uma das principais receitas dos criadores do dia da raça. Já os migrantes, se nas suas terras feneciam sem futuro e sem esperança de futuro para os filhos... chegados à cidade grande, o almejado futuro, a almejada esperança, esfumavam-se rapidamente... E o bilhete de ida, tantas vezes com dinheiro emprestado... tomara que fosse, também, bilhete de volta... Regresso que, tantos, jamais fizeram. Talvez não tenham morrido de fome, enquanto puderam trabalhar, um trabalho quase sempre duro e mal pago. Eram, são-no ainda, quase todos, gente pouco habilitada. E, agora, com reformas de miséria, fenecem, lentamente, sentados em bancos de jardim.
Desses, sim, não é desadequado afirmar que, quando nasceram, começaram, imediatamente, a morrer.
Sempre assim terá sido e, Abril, que chegou a parecer a primavera sonhada, está tornado, como tantos já vimos vendo, no inverno donde, afinal, ainda não fomos capazes de sair...
23/04/2008
A desertificação... O desenraizamento.
Terá sido p'los idos de 50 que a desertificação, principalmente no que se refere ao Alentejo, se começou a tornar mais evidente... sem que os poderes públicos, em algum tempo, lhe tivessem dado uma verdadeira e honesta atenção. Nos anos que se seguiram ao 25 de Abril houve uma certa estagnação que, liquidada a ilusória esperença, regressou em força e, hoje, por exemplo no concelho de onde sou oriundo, a situação é verdadeiramente alarmante. Basta referir que há 4o anos, o concelho, um dos mais extensos de Portugal, tinha cerca de 30 mil residentes. Hoje, são cerca de 9 mil, sendo que cerca de 40% têm mais de 75 anos, e são pouco mais de 5% os que têm menos de 20 anos de idade. Entretanto, os poderes públicos, locais, regionais e nacionais, assobiam p'ro lado. Neste caso, são todos oriundos da mesma força partidária o que, aos meus olhos, ainda facilita as coisas... Muitos são os pequenos aglomerados quase completamente abandonados, a indústria é inexistente, o comércio está falido e o principal empregador é o município, que tende a perpetuar-se no poder já que o caciquismo, som uma capa democrática, regressou em força. Isto porque quem não for da "cor" não arranja emprego...E, ao mesmo tempo que as "receitas" pagam empregos e "estabilidade" política, o saneamento básico e tantas outras carências são remetidas para as calendas...
Mas o aspecto que eu pretendia, de facto, abordar, prende-se com o desenraizamento, tema raramente abordado e que, entretanto, assume, aos meus olhos, uma importância de significado superlativo.
19/04/2008
Começamos por aqui...
Nasci numa terra alentejana, nas margens do Guadiana. Fui "obrigado" a partir, p'ra "cidade grande", à semelhança de tantos outros, quando o adolescente ainda estava a meio fazer... E cresci, em Lisboa, minha terra de adopção, sem que, jamais, fosse capaz de, num só dia, esquecer o meu Alentejo, então distante. O "meu" Alentejo era, então, muito para além da outra margem do Tejo e ainda não havia ponte. Só "matei" saudades, quatro anos volvidos, para ir acompanhar o funeral dum parente... A viagem foi longa, diversa e demorada... Meteu barco para o Barreiro, comboio até Beja e camioneta p'ro destino final... Estranhamente, as ruas da "minha" terra tinham encolhido, o rio ficara mais estreito... e comecei a discorrer que, espera aí, quem começara a ficar "diferente" fora eu... A "cidade grande" transformara o meu olhar. E talvez tenha sido esse o momento em que, pela primeira vez, apercebi uma estranha necessidade de arrancar as "vendas", de ter a consciência de que "os lados" também são um campo de visão. São muitas as vezes em que acredito, acredito mesmo, que aquela viagem, afinal uma viagem dolorosa, paga, depois, a prestações, me ajudou na procura de aperceber todos os lados deste nosso viver. Nesses parcos dias, apercebi que esta nossa vida não pode ser, é preciso que não seja, uma sequência interminável de dias. Os que assim procedem, e somos quase todos, limitam-se a "matar" o tempo. Um tempo que, por ser escasso, é imperioso que saibamos aproveitar, sempre, em todos os dias, enquanto dádiva que não poderemos, nunca, deixar de repartir.
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